25 de março de 2011

Hora do Planeta 2011



O que é?

A Hora do Planeta é um ato simbólico, promovido no mundo todo pela Rede WWF, no qual governos, empresas e a população demonstram a sua preocupação com o aquecimento global, apagando as suas luzes durante sessenta minutos.

Quando?

Sábado, dia 26 de março, das 20h30 às 21h30. Apague as luzes para ver um mundo melhor. Hora do Planeta 2011.

Onde?

No mundo todo e na sua cidade, empresa, casa... Em 2010, mais de um bilhão de pessoas em 4616 cidades, em 128 países, apagaram as luzes durante a Hora do Planeta. Em 2011, a mobilização será ainda maior.

Participe, divulgue!

20 de março de 2011

A arte de dar a volta por cima

Resiliência é o nome dado na psicologia à capacidade de ser flexível frente às adversidades e aprender com os próprios erros.

"Aquilo que não me destrói me fortalece", ensinava o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche. Este poderia ser o mote dos resilientes, aquelas pessoas que, além de pacientes, são determinadas, ousadas, flexíveis diante dos embates da vida e, sobretudo, capazes de aceitar os próprios erros e aprender com eles.

Sob a tirania implacável do relógio, nosso dia a dia exige grande desgaste de energia, muita competência e um número cada vez maior de habilidades. Sobreviver é tarefa difícil e complexa, sobretudo nos grandes centros urbanos, onde vivemos correndo de um lado para outro, sobressaltados e estressados. Vivemos como aqueles malabaristas de circo que, ofegantes, fazem girar vários pratos simultaneamente, correndo de lá para cá, impulsionando-os mais uma vez para que recuperem o movimento e não caiam ao chão.

O capitalismo, por seu lado, modelo econômico dominante em nossa cultura, sem nenhuma cerimônia empurra o cidadão para o consumo desnecessário, quer ele queira ou não. A propaganda veiculada em todas as mídias é um verdadeiro "canto da sereia"; suas melodias repetem continuamente o refrão: "comprar, comprar, comprar".

Juntam-se a isso o trânsito caótico, a saraivada cotidiana de más notícias estampadas nas manchetes e as várias decepções que aparecem no dia a dia, e pronto: como consequência, ficamos frágeis, repetitivos, desesperançados e perdemos muita energia vital.

Se de um lado a tecnologia parece estar a nosso favor, pois cada vez mais encurta distâncias e agiliza a informação, de outro ela acelerou o ritmo da vida e nos tornou reféns de seus inúmeros e reluzentes aparatos que se renovam continuamente. E assim ficamos brigando contra o... tempo!

Haja resiliência! Essa é com certeza uma expressão adequada aos dias de hoje. Só a paciência já não basta. Além de pacientes, precisamos ser determinados, confiantes, ousados e ao mesmo tempo flexíveis e conscientes para manter os problemas em perspectiva - alguns têm solução, outros não -, deixar que o tempo se encarregue de mostrar os caminhos e, sobretudo, aprender a olhar de forma diferente para eles e achar novas maneiras e estratégias de contornar as adversidades.

A resiliência é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. Esse termo se origina de uma ciência exata, a física, e significa a capacidade que os corpos têm de voltar à sua forma e estado originais, depois de serem submetidos a um grande esforço ou pressão externa.

O indivíduo pode ser mais ou menos resiliente, se levarmos em conta fatores intrínsecos de personalidade, valores, educação ou heranças parentais. Nossa cultura ocidental sempre deu um enorme valor à figura do herói, apresentando- o como um ser que deve superar situações de extrema dificuldade para proteger a própria vida, para salvar algo ou alguém. Na mitologia, temos o arquétipo do herói que passa por inúmeras provações, desafios físicos e morais e que, ao final de sua saga, voltará transformado, trazendo uma mensagem de verdade e esperança.


O sofrimento, as perdas e frustrações são inevitáveis durante a vida, e não há ninguém que possa dizer que não passou por eventos difíceis e traumáticos durante seu desenvolvimento. Para certas correntes psicanalíticas, o próprio nascimento já é, em si, um evento traumático, envolvendo medo, alterações fisiológicas súbitas, dores e riscos.

A atitude resiliente pressupõe um discernimento que advém de experiências anteriores

O psicanalista austríaco Otto Rank afirma que "somos todos heróis ao nascer, quando enfrentamos uma tremenda transformação, tanto psicológica quanto física, deixando a condição de criaturas aquáticas, vivendo no fluido amniótico, para assumirmos, daí por diante, a condição de mamíferos que respiram o oxigênio do ar e que, mais tarde, precisarão erguer-se sobre os próprios pés" (do livro O poder do mito, de Joseph Campbell).

A superação dos desafios é, sem dúvida, muito importante para se chegar a algum lugar, seja num contexto intelectual, profissional ou financeiro, tendo em vista que na natureza como um todo os melhores e mais fortes serão os vencedores.

Disse um mestre: "Não podemos evitar as ondas do oceano, mas podemos aprender a surfá-las." O surfista tem jogo de cintura, agilidade, presença de espírito, amor pelo esporte, conhece o mar, conhece os ventos favoráveis e sabe a hora de pular fora da onda, pois logo atrás já vem vindo outra!

A atitude resiliente, no entanto, não é sinônimo de força ou coragem no sentido mais egoico ou heroico do termo. Ela pressupõe também uma sabedoria e uma criatividade, um discernimento que aparece como consequência de experiências anteriores, algo que também é um ganho, à medida que as adversidades vão criando uma espécie de "musculatura interior".

Numa pessoa resiliente devem estar presentes a capacidade de adaptação e a flexibilidade perante o seu destino. Ela deve ser capaz de promover as mudanças necessárias quando elas são inevitáveis.

A resiliência pode e deve ser exercitada; ela não é algo simplesmente herdado ou um traço de personalidade. Como podemos fazer isso? Aqui vão algumas dicas para se treinar a resiliência:

Aceitação - Em primeiro lugar, não negar o problema quando ele bate à sua porta; a negação só faz aumentar seu tamanho, assim como acentuar a resistência para as mudanças. As soluções podem começar a aparecer a partir dessa compreensão.

Controle - Uma vez que a vida é inexoravelmente mutável e transitória, as reações de controle e de apego são ineficazes. Bem ao contrário do que se pensa, exercer muito controle sobre tudo e todos não é uma solução; os eventos da vida têm um curso próprio que independe da nossa vontade e da nossa opinião. Respeitar o curso natural das coisas nada tem a ver com uma atitude de resignação. Significa simplesmente não nadar contra a corrente dos fatos. Por outro lado, o criticismo exagerado e a expectativa utópica em relação a resultados são uma porta aberta para as desilusões. Reconhecer e assumir as próprias fraquezas e incompetências é, antes de tudo, um ato de coragem.

Aprendizado - Adotar uma perspectiva de entendimento e aprendizado, quando algo traz muita contrariedade ou angústia. Há muitas maneiras de sofrer: para começar, podemos sofrer com inteligência ou com burrice! Na primeira, há mais crescimento e dignidade; na segunda, a pessoa se coloca na posição de vítima e desencadeia uma busca incessante de culpados, assumindo uma postura errônea, que acaba por paralisar sua vida. As experiências difíceis são de grande valia, pois criam "anticorpos" que nos protegerão em outras possíveis situações de risco. Toda sabedoria bem absorvida funciona como uma imunização. Da mesma forma, o trabalho psicoterapêutico eficiente pode mostrar que não precisamos nos identificar com o sofrimento ou com os padrões negativos, mas podemos, sim, examiná-los, compreendê-los e aprender com eles.

Tecnologia - Use todo e qualquer instrumento tecnológico sempre a seu favor e empregue o seu discernimento para não se tornar refém das tecnologias. O excesso de informação é estressante, leva à dispersão e não pode nunca substituir com vantagem o contato pessoal, o afeto e a convivência com as pessoas queridas.

Preocupação - John Lennon dizia que "a vida é uma coisa que acontece, enquanto você fica preocupado, fazendo planos". Assim, não se preocupe demais com o futuro. Sofrer por antecipação é um dos hábitos mais negativos do homem contemporâneo. A ansiedade é corrosiva para a saúde, afeta o sistema imunológico e sua base é o medo e a falta de confiança. O pânico, as fobias e a depressão são os sintomas da demolição dos nossos esquemas mentais de segurança.

Não há fórmulas mágicas para superar crises e dificuldades, sejam elas quais forem. Mas o indivíduo resiliente tem um diferencial na sua forma de atravessar esses momentos. Concentração, foco e tolerância podem moldar um jeito diferente de olhar os nossos problemas. Felicidade é também um modo de interpretar a realidade.

Bibliografia

- Aprenda a relaxar, Mike George, Ed. Gente
- Mente alerta, Jon Kabat-Zinn, Ed. Objetiva
- Stress a seu favor, Susan Andrews, Ed. Ágora
- Em busca do sentido, Viktor Frankl, Ed. Vozes

(Tereza Kawall)*

*Psicóloga com orientação junguiana, especializada em orientação vocacional. Blog: http: bliss1000.blogspot.com

Revista Planeta/Comportamento - Março/2010

A construção da felicidade

Não vemos as coisas como elas são - vemos as coisas como nós somos. Alcançar a felicidade requer a superação dessas limitações sem transgredir os próprios valores e posicionamentos

De onde vem essa cegueira eterna que nos faz lidar com o novo usando os velhos padrões? Estamos reduzindo as possibilidades de nossa vida e limitando o potencial de nossa obra pela dificuldade de nos abrirmos verdadeiramente para o horizonte mais amplo do novo. Os padrões que formatam nosso olhar sobre a existência também criam uma cortina de fumaça que nos ilude e confunde nossas percepções.

Albert Einstein nos ensina que “não é possível resolver os problemas no mesmo nível de consciência que os criou”. É preciso transcender o estado do pensamento e da percepção que gerou determinada situação ou relação e funcionar em um estado mais amplo e, portanto, mais cheio de possibilidades.

A forma como enxergamos a realidade é que a modela. Vivemos dentro dos limites de nosso olhar, de nossa percepção. Cada um de nós modelou uma lente, uma forma de ver a realidade, ou o que a ciência chama de paradigma. Essa formatação não é a verdade – é apenas um modelo pessoal da verdade. Sendo assim, é preciso que estejamos atentos à possibilidade de ver outras formas, outros modelos de mundo.

Estado tão ambicionado quanto fugidio, a felicidade é assunto de permanente interesse em qualquer latitude. Ao lado da espiritualidade, das relações interpessoais saudáveis, da ecologia e da cultura, ela figura entre os temas de destaque do VII Congresso Transpessoal Internacional, promovido pela Associação Luso-Brasileira de Psicologia Transpessoal (Alubrat) em Águas de Lindoia (SP) entre 4 e 7 de setembro. Uma das palestrantes do evento, a educadora e escritora Dulce Magalhães, mostra a seguir que chegar à felicidade envolve necessariamente uma grande transformação interior.
Não há perda, desafio, problema ou circunstância com a qual não possamos lidar. Tudo pode ser integrado em novos níveis de consciência e, dessa forma, somos capazes de transcender o desafio sem transgredir nossos valores e posicionamentos. Aliás, só estaremos resolvendo verdadeiramente uma questão se estivermos em alinhamento com nossa própria consciência e guiados por nossos valores mais caros.

Há muitas outras formas de perceber a mesma realidade, além daquela que estamos usando. E nenhuma delas será mais vantajosa do que a alternativa da felicidade. Estar em perfeita integração consigo mesmo, em sintonia com valores coletivos de fraternidade, liberdade e igualdade, sermos inspirados por ícones que buscam elevar a consciência individual e planetária. A felicidade é a criação de um cosmos dentro do caos.

A separação entre a causa e o efeito, entre indivíduos ou entre perspectivas é ilusória. Tudo está interligado e funcionando em uma grande e harmoniosa intenção correta. Por vezes somos incapazes de percebê-la, mas o tempo, o grande curador de todas as feridas, sempre revela que nada está sem sentido e nenhuma ação é desconectada da fonte.

É preciso transpirar uma nova realidade para poder vivenciá-la. Enquanto não nos posicionarmos e não fizermos a escolha, viveremos no mundo que não escolhemos nem desejamos. Este é um momento de con-vocação, de re-união, de re-construção. O chamado já está sendo feito; que possamos atendê-lo e nos seja dado o privilégio de nos tornarmos a mudança que queremos ver no mundo, como nos ensinou Mahatma Gandhi.

Tempo de crisálida

É preciso deixar morrer. É preciso aprender a liberar o que já não é mais. Há partes de nós que resistem, apesar de obsoletas. Que certezas carregamos sem questionar? Onde estão nossas dificuldades de aceitação que não nos permitem sair do sofrimento?

Há tempo para tudo na vida. Mas é preciso deixar morrer a lagarta. A semente do que fomos e as ilusões nas quais construímos nossa visão de mundo foram uma etapa necessária da existência, mas chega o momento da transformação. Aquilo que era bom não representa mais o futuro.

A segurança não pode ser medida pela convicção, mas pela habilidade de duvidar e, mesmo assim, ser capaz de seguir em frente. A lagarta é a promessa do que podemos nos tornar; contudo, não é a experiência completa nem um fim em si mesma. É uma etapa inicial, acertadamente percorrida. A infância da vida, o desabrochar da inocência, a experimentação da realidade.

Então há o momento de deixar a lagarta morrer. Esse é o tempo da crisálida. Quando saímos das certezas aprendidas para as verdades elementares. Introjetamos a experiência e repassamos a vida pelo crivo caloroso da essência. Existe alegria, júbilo nessa vivência, pois não há nada melhor do que renascer. Nascer pode não ser uma escolha, mas renascer é fruto da consciência que acorda e deixa morrer aquilo que não vive mais.

Claro que, como qualquer das passagens da existência, tornar-se crisálida não é uma experiência isenta de tumulto. Há estertores da antiga lagarta que resiste em desaparecer, sem compreender que de fato se transforma em algo maior e melhor. A crisálida contém a lagarta, mas vai muito além dela.Essa interiorização a que a crisálida convida é um estado reflexivo, de harmonização entre o ser e o fazer, entre o desejo e o destino. É a edificação da consciência em estado de maturidade. É, ao mesmo tempo, um estado de insensatez, de loucura, de fazer coisas inesperadas, fora do senso comum. É preciso muita maturidade para enlouquecer de forma sensata.

Loucura mesmo é permanecer lagarta. Arrastar- se por aí, sem perceber a magnificência da vida. Acordar e dormir sem perceber que o tempo entre esses dois momentos é o mais significativo. Não será em nenhum outro dia, nenhum outro momento e nenhum outro lugar. Especialmente, não precisamos ser outra pessoa para nos transformarmos. O ser que somos já basta. É preciso lembrar que a lagarta é semente e que a experiência acumulada é a matéria-prima na qual podemos construir o casulo que vai abrigar a crisálida.

É tempo de se voltar para o interior, a essência. Um momento de recolhimento das distrações do mundo. O sabático do cotidiano. Na aparência, aos olhos apenas focados no exterior, a crisálida é um casulo de morte. É o fim da lagarta e nada mais se vê. Não há beleza nem movimento, nenhum tipo de ação. É o fim de um ciclo, mas não se pode adivinhar o que virá daí. É preciso aprender a confiar no fluxo, acreditar no sábio processo da natureza, que fará revelar aquilo que pode ser.

Muitos obser vadores desavisados vão condenar a crisálida. Vão apontar suas deficiências, suas perdas, suas dificuldades, sua fragilidade. Contudo, não se pode confiar na impressão das outras lagartas. Cada uma delas também haverá de experimentar o mesmo processo, cada uma a seu modo, porém lagartas não estão prontas para compreender a crisálida.

O que é uma aparente deficiência pode ser, de fato, um redimensionamento da experiência de existir. O que é percebido como perda pode, na verdade, ser um desapego libertador. As dificuldades nada mais são do que a consciência em pleno exercício, percebendo mais e, portanto, experimentando coisas e situações novas. É do falsamente frágil que surge a força, o vigor, a vida.

Por falta de experimentação, o vocabulário das lagartas condena a experiência de crisálida. A resistência se organiza, a crítica se intensifica, mas o processo não pode mais ser interrompido. Uma vez que a lagarta comece a se transformar, já não há mais volta. E é desse recolhimento, dessa autoimolação do passado que surgirão as condições para o desabrochar de uma nova experiência, mais ampla, mais rica, além de qualquer aspiração.

Da antiga lagarta se tem a experiência do corpo. Dos desafios vividos nascem as antenas da percepção. Da entrega surgem o veludo e as cores. O ser se apresenta além das restrições e, de par em par, desdobra suas asas e se permite voar para esse lugar mítico chamado felicidade. É para lá que estamos todos fadados a seguir.


(Dulce Magalhães)*

*Ph.D. em filosofia pela Universidade Colúmbia, mestre em comunicação empresarial pela Universidade de Londres e membro do conselho gestor da Unipaz SC, foi eleita uma das 100 Lideranças da Paz no mundo pela Geneve for Peace Foundation.
 
Fonte: Revista Planeta/Comportamento - Setembro/2010

Psicologia Positiva - A ciência do otimismo

Nascida no fim do século 20, a psicologia positiva propõe uma mudança de postura com conseqüências revolucionárias para essa área: estudar tanto o que vai mal como o que vai bem na psique da pessoa, e extrair desse lado saudável os elementos básicos para a cura

Uma novidade está ganhando força na psicologia, e seu êxito pode significar uma reviravolta e tanto numa área tão habituada a lidar com o lado escuro da mente humana. Intitulada psicologia positiva, essa corrente se baseia numa mudança básica de perspectiva: em vez de se concentrar nas falhas de seus pacientes, os profissionais preferem focar inicialmente as forças e virtudes dessas pessoas. É a partir daí que os pacientes ganham condições de superar tanto os obstáculos de agora como outros que poderão surgir.

A psicologia positiva é uma reação à tendência do setor de ressaltar apenas os estados e aspectos negativos da psique humana. Essa tendência - baseada na crença de que a virtude e a felicidade são estados inautênticos e, em última instância, a pessoa acaba por voltar a um padrão negativo - vem de muito longe, afirma Martin Seligman, professor de psicologia da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos.

"Sua manifestação primeira é a doutrina do pecado original. Na sua forma secular, Freud trouxe essa doutrina para a psicologia do século 20, na qual ela se entrincheirou e permanece firme no pensamento acadêmico atual", explica Seligman.

Segundo Alex Linley, professor de psicologia na Universidade de Leicester (Grã-Bretanha), o problema também possui razões políticas e econômicas. Após a Segunda Grande Guerra, o governo norte-americano investiu pesado no estudo de distúrbios psicológicos, como o estresse traumático, a ansiedade e a esquizofrenia.

Isso levou os pesquisadores a se concentrar nessas áreas de estudo, situação que só mudaria nos anos 1960, com o surgimento da psicologia humanística de Abraham Maslow. Mas esse movimento nunca penetrou no mundo acadêmico e, depois, com o advento da psicologia cognitiva (o segmento que estuda a percepção, o pensamento e a memória), ficou ainda mais deslocado.

A falta de rigor científico típica de muitos adeptos da psicologia humanística prejudicou a sua credibilidade ao mesmo tempo que fortalecia o setor de auto-ajuda - uma distorção que a psicologia positiva busca corrigir. "Muitos livros de auto-ajuda foram lançados com conceitos baseados em emoção e intuição", comenta o psicólogo israelense Tal Ben-Shahar. "A psicologia positiva combina isso com a razão e a pesquisa", explica.

Pesquisas apontam que o OTIMISMO é habilidade que pode ser ensinada e aprendida

UM DESSES ESTUDOS sobre o "funcionamento ótimo" das pessoas, realizado com freiras idosas, revelou que aquelas com uma perspectiva positiva da vida quando tinham entre 20 e 30 anos viveram até uma década a mais do que as demais. Outro, com pessoas a quem se solicitou que redigissem um diário todas as noites durante seis meses, registrando coisas que haviam dado certo naquele dia, mostrou que seu desempenho em avaliações de felicidade, otimismo e saúde física foi melhor do que aquelas que não escreveram. Além disso, pesquisas apontaram que o otimismo é uma habilidade que pode ser ensinada e aprendida.

Em 1998, Martin Seligman, em seu discurso presidencial para a American Psychological Association, exortou a psicologia a voltar-se para "a compreensão e a edificação das forças humanas a fim de complementar nossa ênfase na cura de distúrbios". A idéia prosperou: a Gallup Organization criou o Gallup Positive Psychology Institute para patrocinar estudos na área e, em 1999, 60 pesquisadores participaram do 1º Encontro Gallup de Psicologia Positiva. Em 2001, o evento se tornou internacional e a cada ano esgota rapidamente as 400 vagas oferecidas.

EM 2006, O CURSO MAIS procurado por alunos não-graduados na faculdade norte-americana de Har vard (uma das mecas do pensamento acadêmico tradicional) foi psicologia positiva, com quase 28% a mais de inscrições do que o segundo colocado, introdução à economia. Já existem mais de 200 cursos sobre psicologia positiva em universidades norte-americanas, além de um mestrado na Universidade da Pensilvânia (orientado por Seligman). Uma instituição de ensino público britânica - a Wellington College - incluiu aulas de psicologia positiva e felicidade em seu currículo básico.

No artigo "The Science of Happiness" (edição de janeiro/fevereiro de 2007 da Harvard Magazine), o professor de psiquiatria George Vaillant observa que no livro Comprehensive Textbook of Psychiatry (a "bíblia" clínica da psiquiatria e da psicologia clínica nos Estados Unidos) "há milhares de linhas sobre ansiedade e depressão e centenas sobre terror, culpa, raiva e medo. Mas só há cinco linhas sobre esperança, uma linha sobre alegria e nenhuma sobre compaixão, perdão e amor". A psicologia positiva tem mudado isso, popularizando termos como otimismo, resiliência (expressão da física que significa poder de recuperação, grau de elasticidade), coracoragem, virtudes, energia, forças, felicidade, perdão ou alegria.

Afora o mestrado da Universidade da Pensilvânia, ainda não existe treinamento específico para a psicologia positiva. Linley não vê mesmo necessidade disso: "Você pode dizer que qualquer profissional está atuando como um psicólogo positivo se está adotando uma abordagem que examina tanto o que está funcionando bem como o que não está funcionando."

Mas essa simples mudança de enfoque conduz o tratamento para terrenos bem diferentes dos tradicionais. No artigo da Harvard Magazine, o editor-assistente Craig Lambert ilustra: "Em vez de analisar a psicologia subjacente ao alcoolismo, os psicólogos dessa área podem estudar a resiliência dos que conduziram uma recuperação bem-sucedida - por exemplo, por meio dos Alcoólicos Anônimos.

"Em vez de ver a religião como uma ilusão e uma muleta, (...) eles podem identificar os mecanismos por meio dos quais uma prática espiritual como a meditação fortalece a saúde física e mental. Suas experiências em laboratório podem definir não as condições que induzem a um comportamento indesejado, mas as que estimulam a generosidade, a coragem, a criatividade e a alegria."

UM DOS NOMES MAIS destacados nessa área é o de Tal Ben-Shahar. Formado em Harvard, ele foi o responsável pelo curso mais requisitado da universidade no ano passado, e seus livros são best-sellers. Os exigentes alunos de Harvard endossam o sucesso. "A psicologia positiva pode ser o curso em Harvard que todos os alunos precisam fazer", diz Nancy Cheng, aluna de biologia. "Nesse ambiente de ritmo rápido e competitivo, é muito importante que as pessoas arranjem tempo para parar e respirar. Uma aula de auto-ajuda? Talvez... Mas a partir do que vi e experimentei em Harvard, acho que poderíamos todos usar um pouco de auto-ajuda como essa."

Fonte: Revista Planeta/Comportamento - Dezembro/2007